Gostou? Então vote!

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Na contramão mundial: Alta carga tributária inviabiliza carro elétrico no Brasil

Foto: Divulgação

No último ano do governo Lula, mais precisamente no dia 25 de maio de 2010, o auditório do Ministério da Fazenda em Brasília estava lotado de empresários, representantes do setor automobilístico e jornalistas para o anúncio oficial do que seria a primeira política pública do país para carros elétricos.

Para surpresa geral, o evento foi cancelado em cima da hora porque o Presidente Lula “desejava conhecer melhor o projeto”. Reportagens da época revelaram que a solenidade seria presidida pelo Ministro da Fazenda Guido Mantega, ao lado dos ministros da Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, e da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende. Entre outras medidas, o programa previa a redução de impostos para veículos elétricos e a criação de um centro de desenvolvimento de tecnologia.

Pois bem lá se vão quase três anos e nenhuma política para o setor foi anunciada até agora. A razão é desconhecida. Para quem acompanha a evolução tecnológica dos carros elétricos (híbridos ou a bateria) mundo afora, há motivo de preocupação. Ficamos para trás e não há ainda perspectiva de que essa situação comece efetivamente a ser revertida.

O carro elétrico híbrido (com motor a combustão ligado a um motor elétrico) já é realidade no competitivo mercado automobilístico internacional, com mais de quatro milhões de unidades vendidas. Este tipo de carro faz mais de 20 quilômetros com um litro de gasolina nas cidades e virou febre no Japão, onde, de cada dez veículos vendidos, um é híbrido.

A outra versão de carro elétrico é movida a bateria, com emissão zero de poluentes ou ruídos, e com autonomia de até 160 quilômetros, o que atenderia com sobras à demanda da maioria absoluta dos motoristas que andam de carro nas cidades. A recarga convencional, usando-se uma tomada qualquer, consome pelo menos seis horas de espera.

Nos postos de recarga rápida (solução tecnológica já disponível e presente em países onde há políticas públicas de incentivo ao uso de elétricos), esse tempo cai para apenas meia hora. O consumo de energia equivale a de um chuveiro elétrico, mas, na comparação com um carro convencional a gasolina, o modelo movido a bateria é sete vezes e meia mais econômico.

Segundo a Associação Brasileira de Veículos Elétricos, já existem aproximadamente 200 mil unidades circulando pelo mundo. No Brasil, apenas 70 foram emplacadas, sendo que maioria absoluta (68) foi adquirida por empresas.

O maior problema é a elevada carga fiscal que incide sobre carros elétricos a bateria. Enquanto os híbridos importados são taxados praticamente como carros convencionais (as alíquotas variam de acordo com o tamanho do dispositivo elétrico de cada motor), com preço final de aproximadamente R$120 mil, os modelos a bateria sofrem com a sobreposição de impostos que inviabilizam a compra.

Por exemplo: um modelo esportivo japonês sem nenhum luxo ou acessório sofisticado paga 120% de impostos para entrar no país. Com o preço final de aproximadamente R$ 200 mil, o modelo acaba virando objeto de decoração nas concessionárias.

Em todos os lugares do mundo onde os carros elétricos a bateria chegaram com força, houve contrapartidas fiscais dos respectivos governos. Isso se justifica pelos benefícios ambientais (emissão zero de poluentes e ruído) que reduzem custos indiretos na área da saúde.

É evidente que a melhor solução para a mobilidade urbana são os meios de transportes públicos de massa eficientes, baratos e rápidos. No país em que a frota automobilística se expande em progressão geométrica, porém, elevando a emissão de poluentes e a necessidade de o governo importar gasolina, com efeitos colaterais importantes sobre a economia, é bem-vindo o debate sobre carros elétricos.

Fonte: Coluna Sustentável - Jornal da Globo

Nenhum comentário:

Postar um comentário