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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Crianças influenciam famílias na proteção ambiental

Foto: Na Lata
Onde quer que estejam, crianças são bombardeadas por mensagens de preservação ambiental. Elas decoram a cartilha verde e lideram a adoção de novos hábitos.

É um exército mirim em formação. A patrulhinha economiza água, separa o lixo e chama a atenção de quem não segue regras ecologicamente corretas. Uma graça.
O problema é que a missão "salvar o planeta" é pesada demais para a pouca idade.
"Algumas informações estão muito distantes da capacidade cognitiva de crianças", diz Adriana Braga, bióloga e professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de São Paulo.
"Escolas já me procuraram porque os alunos estavam em pânico, sem dormir, diziam que ia pegar fogo na Terra e a água ia invadir a casa deles", afirma Braga, que integra grupo de pesquisa em educação ambiental.
"Se para adultos enfrentar desafios ambientais já dá sensação de impotência, imagine para a criança."
Menores de sete anos não têm total noção de tempo e espaço. Não entendem onde ficam as áreas litorâneas que poderiam ser alagadas, por exemplo. "Absorvem alguns conceitos, mas não tudo", afirma a professora.
Mas as crianças levam a sério seu papel de guardiões do planeta e convocam pais e irmãos para a luta.

Mariana Petrosink controla tempo de banho do irmão; acima, ela brinca com cartões telefônicos que recolhe na rua Mariana Petrosink da Costa, 5, cobra responsabilidade verde do irmão mais velho e controla até o tempo que ele fica no banho. "Ela chama a atenção do irmão de 16 anos", diz a mãe, a autônoma Kátia Petrosink da Costa, 44.
Depois que Mariana começou a frequentar a escola, há dois anos, a família mudou seus hábitos. Antes, só reciclavam óleo. Agora separam também garrafas e plásticos. A menina pede que escovem os dentes com a torneira fechada -ela mesma usa uma caneca para fazer bochechos.
Mariana também recolhe cartões telefônicos jogados na rua. Inventou uma brincadeira: repete "olhou para o chão, achou um cartão" sempre que pega mais um.
"Vivo com a bolsa cheia de papéis de bala, ela não joga nada fora e pede para eu guardar", conta a mãe.
Mariana estuda na zona leste, numa chamada "escola verde" da rede municipal paulistana, com projetos de conscientização ambiental. A menina chega em casa contando tudo o que ouviu lá.
"A criança reproduz na família o que incorporou na escola; ela tem força em casa, tem ascendência sobre a família, funciona como um fiscalzinho", diz a professora da UFRJ e mestre em educação Tania Zagury.

Maria Eduarda Arb Comparato, 6, faz sua própria seleção de recicláveis. Tem uma "caixa de criatividade", onde guarda embalagens vazias. Usa o material para inventar brinquedos. "Com um pote de glitter vazio fiz um chocalho sozinha", afirma.

A menina já levou 22 tubos do interior do rolo de papel higiênico à escola, para que cada colega fizesse um bonequinho com aquilo, conta a mãe, a psicóloga Luciana Arb Comparato, 36.
Em casa, Maria Eduarda chama a atenção do culpado, se nota desperdício de água. "Precisa economizar, senão as árvores morrem e a gente fica sem ar e morre também."
Depois de visitar com a escola uma exposição sobre água, fez questão de que os pais e o irmão menor fossem também, para aprender sobre a importância dos mananciais.
"Ela é muito antenada com isso, mas acho que lida de forma saudável", diz a mãe.
A educadora Tania Zagury afirma que é essencial mostrar aos pequenos que há saídas. "Se a criança se mostrar muito preocupada, cabe aos pais passar tranquilidade, conversar e tirar todas as dúvidas do filho."
Em duas faixas de idade as crianças se mostram mais suscetíveis a medos e pesadelos. Primeiro, aos dois anos, quando ainda têm uma visão fantasiosa do mundo. Depois, aos sete, quando começam a compreender a realidade e ficam preocupadas com situações concretas.

Para a professora Adriana Braga, uma forma de despertar a consciência ambiental dos pequenos é trabalhar valores como o respeito à vida e o cuidado com os outros.
"Ensinar que o brinquedo da escola é de todo mundo, por isso deve ser bem cuidado, que a sala de aula deve ficar limpa, porque será usada por outra turma, são maneiras de passar conceitos sobre a responsabilidade com o espaço coletivo, a essência da questão ambiental", diz. Segundo ela, as crianças recebem excesso de informações e às vezes só repetem o que ouvem, sem consciência.
A professora conta que, conversando com um grupo de alunos, todos disseram que não se devia jogar lixo pela janela do carro. Ao questionar o porquê, ouviu: "Porque a natureza fica brava", "Deus fica triste" e até "Se ninguém estiver olhando, não tem problema".
As mensagens ecológicas estão por toda a parte, mas é na escola que as principais noções de consciência ambiental são passadas.
O tema é encaixado em projetos de todas as disciplinas e séries. "Às vezes os professores não têm consciência, só reproduzem o conteúdo porque há a pressão para trabalhá-lo", diz Braga.
As irmãs Carolina, 5, e Amanda, 9, ajudam a separar o lixo em casa. Elas lavam os potes vazios e jogam na lixeira com separador de recicláveis. "Quando a professora perguntou o que faziam pelo ambiente, a mais nova disse que ia à escola de carona porque polui menos", conta a odontopediatra Adriana Ziemer Moreira, 40, a mãe, que se reveza com outras para levar as meninas.
As irmãs também dizem não brincar no banho, para não gastar água. "Elas não têm paranoia, mas é bom pensar no futuro", diz a mãe.
Um estudo na Inglaterra mostrou que 82% das crianças de 7 a 14 anos acham mais importante aprender sobre questões ambientais do que ter aulas de ciência, história e tecnologia da informação.
Das entrevistadas, 64% afirmaram ter influência sobre os pais com relação ao meio ambiente. Em outra etapa, feita com pais de crianças na mesma faixa etária, a pesquisa confirmou que elas mudam os hábitos familiares: seis em cada dez pais afirmaram que seus filhos os influenciam a ser mais "ecológicos".
A pesquisa foi feita pelo grupo inglês Co-Operative, que tem um programa educacional de escolas verdes. Ouviu 1.027 crianças e 1.002 adultos. O interesse dos mais novos pelo tema revela que a geração anterior é mais mal informada: metade dos pais admitiu dificuldades para responder às perguntas dos filhos sobre o tema.

FONTE: Folha

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