A polaridade entre calor e frio, registrada em várias partes do mundo nas últimas semanas fez levantar novamente as questões aquecimento global e efeito estufa. Amplamente divulgado nos anos 90 e consolidado nos dias atuais, este fato ainda é pouco lembrado, embora a imprensa e entidades ambientais estão sempre tocando no assunto.
O fato é que se nos Estados Unidos registra-se temperatura de -38º, aqui no Brasil a temperatura chega tranquilamente na casa dos 40º. Por que esta diferença gritante? Como não bastassem apenas as temperaturas altas, de carona chegam incêndios florestais, congelamento de águas, transtorno em aeroportos, etc.
O site G1 fez algumas perguntas aos especialistas para ter pistas do que está ocorrendo. Confira:
- Calor, frio, neve, chuva, incêndios florestais... tudo ao mesmo tempo. Esses fenômenos são consequências da mudança climática global?
Ainda é prematuro dizer, de acordo com cientistas. Eventos climáticos com frio ou calor extremos sempre ocorreram e vão ocorrer no planeta, pois o clima tem como característica a alta variabilidade. Mas, segundo José Marengo, pesquisador do Centro de Ciência do Sistema Terrestre, ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), eventos extremos mais frequentes e intensos já são perceptíveis e podem ter relação com as mudanças climáticas.
- O que são as mudanças climáticas?
São alterações do clima provocadas pelo aumento da temperatura global, consequência de um “efeito estufa enlouquecido”, ou seja, uma capacidade exagerada da atmosfera de reter calor devido à presença excessiva de gases-estufa (como o dióxido de carbono e o metano) lançados na atmosfera pela queima de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, e o desmatamento e queima de áreas florestais. De acordo com os climatologistas, uma maior concentração de CO2 na atmosfera significaria mais energia armazenada. Um dos modos de dissipar essa energia é através de fenômenos climáticos extremos.
- Mas se é aquecimento global, por que nos Estados Unidos e no Canadá o clima é de 'congelar'?
Os especialistas explicam que aquecimento global não significa que todo o planeta pode esquentar, mas sim que pode ocorrer um desarranjo global. Isso possibilita, por exemplo, numa mesma semana, sensação térmica de -50ºC nos EUA e termômetros marcando 50ºC na Austrália e no Brasil.
Os dois países foram afetados pelo vórtice polar, fenômeno climático que normalmente acontece na região do Círculo Polar Ártico, mas que sofreu alteração em sua dinâmica de circulação, permitindo que massas de ar que ficavam circunscritas ao Ártico atinjam latitudes mais baixas, como os dois países. Isto permitiu que regiões dos EUA, como Wiscosin, registrassem -38ºC e tivessem sensação térmica de -50 ºC, ou ainda o congelamento de parte das famosas quedas d’água das Cataratas do Niágara, localizada na fronteira do país com o vizinho Canadá.
- Qual é a explicação para o calor escaldante na Austrália?
Uma extensa onda de calor atingiu grande parte do país, que registrou em algumas regiões temperaturas acima de 50ºC. Também contribui para o calor a irregularidade nas chuvas, que costumam refrescar o país neste período do ano. Enquanto a precipitação não vem, incêndios acometem parte do território australiano, como na região de Perth, onde a temperatura chegou aos 44ºC este mês. O calor em excesso provocou incêndios que mataram de milhares de morcegos em Queensland. Segundo cientistas, as temperaturas do país vêm se mantendo altas durante os verões. O departamento climático do país informou que 2013 foi o ano mais quente desde 1910, quando começou a ser feito o registro de temperaturas do país.
- É comum chuvas e calor escaldante no Brasil ao mesmo tempo?
Sim, segundo meteorologistas. O verão no país é conhecido por registrar fortes chuvas em determinadas áreas e outras, concomitantemente registrarem céu limpo e calor intenso. Fenômenos como as chuvas que atingiram Itaoca, no interior de São Paulo, são eventos típicos da estação. O que não é normal, segundo os cientistas, é a frequência e intensidade desses acontecimentos -- fatores que estariam ligados às mudanças climáticas. Outra característica distinta deste verão é uma irregularidade no nível de precipitação em diferentes regiões do Brasil, que têm registrado forte calor devido à presença de uma massa de ar seco. No Rio de Janeiro, por exemplo, os termômetros registraram no início deste ano sensação térmica de 50ºC. Em São Paulo, o mês de dezembro de 2013 foi o segundo mais seco desde 1933, quando iniciaram as medições na estação meteorológica da Água Funda, Zona Sul da capital paulista.
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